Parece
mesmo que a Prefeitura Municipal de Itatuba está por dentro das principais
apostas musicais para este carnaval e vai deixar todo mundo “Largadinho”, sem uma das principais
festas carnavalescas da região, já consolidada no calendário da cidade como um
dos principais, ou talvez o principal, evento de potencial turístico do
município.
O
“Carnaval das Águas”, seguimento local das comemorações da maior manifestação
popular do planeta, deveria este ano caminhar para sua nona edição... O que
talvez seja pouco, mas para uma cidade de apenas 51 anos e 10 mil habitantes,
figurou nos últimos oito anos como um dos maiores eventos da região do vale do
Paraíba. No início, produzido de maneira experimental, o evento deu certo e os
últimos anos marcaram sua consolidação, que arrisco dizer “bateu chapa” com a
tradicional Festa de São Pedro. Tive a oportunidade de acompanhar de perto as
duas festas, seja como cidadão, seja como organizador e, fazendo uma análise
rápida, não é difícil verificar que o conjunto estrutura-potencial turístico-visibilidade esteve mais concentrado no Carnaval das Águas 2012 do
que no São Pedro do mesmo ano.
O
Carnaval das Águas fez uso de uma estrutura pouco encontrada em cidades
circunvizinhas que sequer, nos últimos anos, arriscaram realizar evento
concorrente. Nosso carnaval estava registrado em nosso calendário, assim como o
São Pedro... E as cidades vizinhas sabiam disso. É como se entre nós,
população da mesorregião de Itabaiana e adjacências, houvesse um calendário de
festas seguido religiosamente numa espécie de ciclo turístico: Festa das Rosas,
em Ingá; São João, em Ingá, São Pedro, em Itatuba; padroeiro(a), em cada uma das
cidades; Festa de Reis, em Dois Riachos... E outras. Nosso carnaval já tinha
lugar garantido nesse ciclo.
Durante
as semanas que antecediam o carnaval, as comunidades e grupos locais nas redes
sociais tornavam-se ponto de encontro de diversos populares organizando “seu
bloco”, se preparando para, sem dúvida, o melhor carnaval da região.
Este
ano estamos em silêncio. E o carnaval chegou.
Não
estou vendo a animada e extinta, há alguns anos, “Turma da Paquera” vender sua camisa aos jovens
da cidade. Não estou vendo o bloco “Pega Pa Kpá” veicular a logomarca mais
ousada e cômica do nosso carnaval. Não estou vendo todas as emissoras de rádio
e TV da Paraíba divulgarem o Carnaval das Águas. Não estou vendo colegas de
Campina Grande, João Pessoa e cidades vizinhas dizerem que passarão o carnaval
em Itatuba. Não estou vendo nenhum convite de conterrâneo chamando seus amigos
para "brincar o carnaval em Acauã".
Parece
mesmo que não teremos Carnaval das Águas.
Quando
ouvi os primeiros comentários que não teríamos o evento, não quis acreditar.
Como tudo, é prudente aguardar. E, partindo de um evento do porte que se
tornou o nosso carnaval, aguardar pacientemente.
Diariamente acessando o portal da Prefeitura, não se encontra nada. Claro que é explicado o
fato da transição de governo. A prefeitura levou um mês pra trazer o site de
volta, fez uns testes nos primeiros dias trazendo a área de notícias repleta de
“bla bla bla bla bla bla”, de forma literal. Já se passaram dez dias desde que
o site voltou, com certeza deve ainda ter muita coisa provisória, em teste e em
construção, mas uma notícia qualquer ou uma nota simples não é algo difícil pra
um jornalista, diplomado ou não, ou qualquer programador ou webdesigner
publicar num site. Se ainda assim for difícil pra o site, uma rede social, como
o Twitter, poderia resolver o problema, mas a conta @itatubapb nem existe mais.
A essa altura do “campeonato”, uma explicação qualquer à população, vinda de um
canal oficial virtual, tendo em vista a velocidade de propagação informacional,
era o mínimo que poderia haver por parte do governo... Mas continuamos ouvindo
o silêncio e vendo o nada.
Mesmo
ainda não sendo tão prudente, mas por conta do tempo, estando no início do
calendário carnavalesco, nos resta mesmo é dar ouvido ao que circula pelas ruas
esburacadas de nossa cidade.
E
o que circula pelos quatro cantos é que, pela primeira vez desde sua criação,
este ano não teremos o Carnaval das Águas. Fato lamentável, tendo em vista toda
a atmosfera supracitada que revestia a cidade nesse período.
Agora
vamos ver um pouco melhor a situação...
Na
página 11, no eixo “Cultura” do caderno do plano de governo do atual prefeito,
apresentado quando do seu registro de candidatura, encontramos os seguintes
tópicos:
“-
Inserção do município em roteiros turísticos da PBTur”;
“-
Resgatar a tradicional Festa de São Pedro de Itatuba (promovendo a parceria
público-privada, em que o município pactua com empresas privadas a
exclusividade nas ações de marketing do evento, em contra partida, a(s)
empresa(s) oferece os recursos financeiros para o evento).” (sic).
Mais
adiante, na página 12, no eixo “Turismo”, encontramos:
“-
Criar mecanismos capazes de atrair turistas para a Barragem de Acauã.”
E
a primeira impressão que temos é que vamos assistir a retirada do único
mecanismo em atividade com verdadeiro potencial turístico para a Barragem. Eis
uma verdadeira mudança! Acho que não ter carnaval também não vai ajudar na
“inserção do município em roteiros turísticos da PBTur”. Só acho.
Em
meio às vozes populares que veiculam a informação do cancelamento da festa há
dois motivos:
O
primeiro deles afirma que o prefeito passado deixou débitos perante o funcionalismo
público e o atual prefeito prefere pagar os salários atrasados a gastar com o evento.
O
segundo motivo seria a seca que atinge o Nordeste desde o final do primeiro
semestre de 2012 e já é considerada a maior dos últimos 40 anos.
Os
argumentos apresentados são plausíveis? Não há dúvida... À primeira vista! Há caminhos muito além
desses que devemos trilhar para entender a gravidade da não realização do
carnaval em nossa cidade.
Voltemos
aos tópicos do plano de governo...
Você
pode até se perguntar sobre o fato de ter citado também algo acerca do São
Pedro, se nosso problema aqui é o carnaval... Mas esse tópico tem muito a nos
dizer... E poderia até solucionar o obstáculo um para não realização da festa.
Tem
funcionário com pagamento atrasado por irresponsabilidade, ou seja lá o que
for, do antigo gestor e o atual prefeito prefere pagá-los ao invés de fazer o carnaval?! Ótimo.
Maravilha. Mas poderíamos ter os dois, se fosse aplicada a política de parceria
público-privada que o plano de governo ressalta acerca do São Pedro. A proposta
do governo atual para o São Pedro parece ser tão boa... Poderíamos ter as duas
maiores festas da cidade com parceria público-privada. Em contrapartida, os
funcionários todos com o salário em dia aumentaria o potencial econômico do evento.
Acredito,
então, que salário atrasado no funcionalismo público municipal não é desculpa
para não realizar o Carnaval das Águas... E o plano de governo do atual
prefeito é quem dá a solução pra isso.
Chegamos
ao obstáculo dois: a seca, um assunto delicado, complexo.
O
Carnaval das Águas era realizado às margens da Barragem Argemiro de Figueiredo,
conhecida popularmente como Barragem de Acauã, o quarto maior reservatório da
Paraíba, como capacidade de armazenar 253 milhões de metros cúbicos.
É
fato que o Nordeste brasileiro sofre com a maior seca dos últimos 40 anos e
essa última estiagem tem afetado desde o final do primeiro semestre de 2012,
fazendo, inclusive, muitas cidades paraibanas cancelarem os festejos juninos.
Com a pouca precipitação pluviométrica nesse intervalo de tempo, a situação,
triste e vergonhosa, só tem piorado.
É
motivo pra cancelar o evento?
É
possível sim que a prefeitura possa abrir mão das festividades carnavalescas
para buscar medidas que ajudem no drama da seca, como construção de cisternas e
obtenção de carros-pipas, entre outros. Todavia, o problema da seca está longe de
ser resolvido de formas paliativas. É um problema congênito e é usado mais como
plataforma política do que com visibilidade de solução eficaz.
Não
se deve engolir a desculpa centro-sulista de que o Nordeste deve conviver com
esse “problema climático”. Ele é, também, e talvez acima de tudo, social. O
Brasil não resolve isso porque não está interessado em resolver, mas em dar
migalhas nos momentos que lhe convém. Já ouviu falar dos problemas causados
pela estiagem em países que estão localizados em desertos, como os Emirados
Árabes Unidos?! Não?! Sabia que em Israel chove apenas cerca de 20% do que
chove no sertão nordestino?! Diferentemente de nós, eles tem avançados sistemas
de irrigação e distribuição d’ água!
Mas
voltemos à seca e ao Carnaval das Águas...
Ainda
que delicada a situação da estiagem em nosso município, analiso o possível
cancelamento do Carnaval das Águas sob esse argumento de maneira equivocada.
Talvez,
seja até triste o setor na esfera nacional ser posto em alguns momentos como prioridade, mas é fato que o turismo vive um boom e o nosso país começa a
receber agora e permanece, no mínimo pelos próximos três anos, como um eldorado
turístico, tendo em vista sermos sede dos maiores eventos esportivos da Terra.
É
claro que Itatuba não receberá nenhum jogo da Copa, mas muito além das partidas
de futebol, a Copa atrai turistas de todo o globo interessados em muito mais
que um estádio, uma bola, um grito de gol. Não é por acaso que o Ministério do
Turismo elaborou um roteiro e incentiva a prática no setor visando a Copa. O
turismo serve de engrenagem à economia, que gera lucros aos demais setores.
Investir no turismo não é luxo nem desperdício.
Itatuba
está no roteiro traçado pelo Ministério do Turismo? Não, mas Campina Grande e
Ingá estão! A proximidade que temos dessas cidades aliada ao incentivo do
governo local podem tornar Itatuba parte da rota. Natal e Recife sediarão jogos. Esses turistas serão encaminhados a
conhecer o Maior São João do Mundo e as Itacoatiaras. Por que não conhecer
também a Serra Velha, a Barragem de Acauã, o nosso São Pedro?! Só depende de
nós. Se já não estamos nesse roteiro após oito anos de Carnaval das Águas, a
coisa fica mais complicada com a retirada do evento do nosso calendário.
Há
solução?
Buscar
parcerias com o setor privado pra realização do Carnaval das Águas, continuar
atraindo milhares de turistas às margens da Barragem de Acauã, mostrar à PBTur
que temos potencial para entrar na rota turística do estado e, em seguida,
nacional, mas mostrar também a carência de políticas de incentivo e a
necessidade de melhor visibilidade.
Com
gerência, usar até mesmo o evento para alertar sobre a problemática da seca e
cobrar soluções eficazes à manutenção da vida e do potencial turístico da
cidade gerado pelo evento.
Na
pior das hipóteses, não havendo a possibilidade alguma de contração de artistas
para três dias de shows em estrutura tal qual as últimas edições, que houvesse
redução dos dias, como fez a gestão passada ao retirar um dia do São Pedro,
ouvindo de partidários da então oposição que a seca não era desculpa para
diminuir a festa. Oito meses se passaram e a moeda virou... Ou a seca é sim
motivo para cancelamento ou os dois governos faltam com a verdade.
E
se a atual gestão rebater o argumento de que não houve tempo para fazer
parcerias para o carnaval tal qual propõe ao São Pedro, já que está na
prefeitura há pouco mais trinta dias? Ora, seja pra rebater o argumento da
transição de governo, seja pra rebater o argumento da seca, temos como exemplo
a cidade de Cajazeiras, localizada no alto sertão paraibano.
A
prefeita de Cajazeiras, Denise Albuquerque, assim como nossa atual
administração, diz ter recebido uma “herança maldita”, encontrando a prefeitura
com diversas dívidas e outras irregularidades. A cidade também sofre com a seca
e a precipitação pluviométrica daquela região é bem mais baixa que a nossa, mas
apesar dos problemas serem bem parecidos aos nossos, a cidade de Cajazeiras
terá o seu carnaval e adivinha devido ao que...
De
acordo com a prefeita, o carnaval está garantido por conta
das parcerias com o setor privado. Lembra do setor privado e do plano de
governo do nosso prefeito?!
Denise
está no comando da cidade pelo mesmo período que o nosso prefeito e o carnaval
de lá terá duração de cinco dias, contando com atrações de peso no cenário
nacional... Graças ao setor privado.
Poderão
dizer que Cajazeiras é bem maior que nossa cidade e parcerias com o setor
privado são mais fáceis... Tudo bem, isso é verdade. Nossa vizinha Ingá, com
uma gestão nova, mesma situação pluviométrica que nós, também terá carnaval.
Talvez,
Ingá esteja preocupada com a questão do turismo por estar na rota da Copa e,
com certeza, crescerá turística e economicamente ainda mais nesse período por
receber os foliões que deveriam lotar a estrutura montada na Barragem de Acauã.
Na
contramão disso e provando que transição de governo não é obstáculo à realização
de eventos, a cidade de Patos, também no alto sertão, que já havia reduzido o
São João em 2012, cancelou o carnaval por completo em consequência da estiagem. A
prefeita Francisca Mota, diferentemente do nosso prefeito, do prefeito de Ingá
e da prefeita de Cajazeiras, não era oposição no último pleito.
Não
sei se com o cancelamento do nosso Carnaval das Águas verei o orçamento que
para ele seria destinado servir de solução paliativa à seca, se será usado como
pagamento dos funcionários, as duas coisas ou nenhuma delas. O que eu acredito
é que nossa cidade só estará despreocupada momentaneamente com a seca se tiver
havido chuva suficiente, e não por causa da economia com a não realização do
carnaval, que pode ter efeito paliativo.
Itatuba
perde muito em não trazer turistas durante o carnaval e fica cada vez mais
distante de um lugar na rota da Copa. Nossa economia perde.
Na
quarta-feira de cinzas, diferentemente dos últimos oito anos, nossos
mototaxistas e motoristas alternativos acordarão sem renda oriunda do transporte
dos foliões da cidade à barragem, os vendedores de comidas e bebidas também não
estarão com dinheiro das vendas no nosso carnaval, artistas locais não terão
realizado show na sua cidade.
Lamento
por todas essas conversas na cidade acerca do cancelamento do Carnaval das
Águas, lamento pelos argumentos surgidos para não haver a festa e lamento ainda
mais por ver que o maior expoente de verdadeira mudança proposta pelo atual
governo é não realizar, talvez, a festa de maior potencial turístico da cidade.
Seja
nesse começo de gestão atual, ou qualquer uma das que vi passar, o que acredito
veementemente é que não fomentar, e com qualidade, o turismo e a cultura em
nosso município não é simplesmente por problema A, B, C, D ou E, mas por
problema de D, E, S, I, N, T, E, R, E, S, S, E.
Ah, e se bater saudade do que foi o Carnaval das Águas, relembre o material publicitário veiculado nas emissoras de TV da Paraíba ano passado: